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terça-feira, 14 de dezembro de 2010

Rivaldo Martins 1 (Histórico)

Determinação de FerroAos 12 anos, fui campeão brasileiro de natação. Pedalava desde a adolescência. Corria sempre que podia. Em 1984, quando assisti à primeira prova de triatlo realizada em Brasília, onde eu morava, me identifiquei imediatamente com a modalidade. Comecei a treinar no dia seguinte. Cinco meses depois, completei meu primeiro triatlo.
Dois anos mais tarde, estava no 5º (?) lugar do ranking brasileiro. Um dia, assistindo a um vídeo de Iron Man, fiquei impressionado com a corrida e, principalmente, com Pat Griskus, o primeiro homem a terminar os 3,6 quilômetros de natação, 180 quilômetros de ciclismo e 42 quilômetros de corrida de um Iron Man com uma perna mecânica. Na hora, telefonei para meu técnico para combinarmos o treinamento para que eu pudesse correr o Iron Man no ano seguinte. Infelizmente, esse treinamento teve de ser adiado. Alguns dias depois de ver o filme, sofri um acidente de carro e perdi a metade inferior de minha perna esquerda.
Em vez de desistir, resolvi me reerguer e seguir adiante. Pat Griskus não saía de minha cabeça; se ele conseguia competir com uma prótese, eu também poderia. Dois dias depois de sair do hospital, eu já dava umas braçadinhas na piscina. Passados três meses, já usava minha primeira prótese - que mal deixava que eu me locomovesse. Com a ajuda de amigos, rifa de carro, competições de natação para arrecadar dinheiro, entre outras iniciativas, consegui uma prótese melhor, que me possibilitava andar bem e dar minhas primeiras pedaladas.
Dois anos depois já com minha terceira prótese (dessa vez uma peça de titânio e fibra de carbono, especial para atividades físicas) participei de meu primeiro triatlo pós-acidente. Foi um short triatlon em Brasília, eu me lembro de tudo como se fosse ontem. A chegada foi incrível, muitas lágrimas.
Em 6 de outubro de 2001, exatos 15 anos após o acidente em que perdi a perna, terminei meu primeiro Iron Man do Havaí. Eu já havia, após o acidente, concluído algumas etapas seletivas do Iron Man - minha prova preferida no triatlo, mas essa foi a primeira vez em que participei da final mundial.
Em 2002, após algumas competições bem sucedidas nas distâncias olímpicas - 15 quilômetros de natação, 40 quilômetros de ciclismo, 10 quilômetros de corrida - fui atropelado durante um treinamento de ciclismo, quando faltavam apenas dez dias para o Iron Man de Florianópolis. Fiquei de fora de todas as provas de Iron Man que havia programado para o ano passado: Florianópolis, Alemanha e Havaí. Foram dois meses longe dos treinos e das competições até me recuperar. Após esse período, voltei com muita disposição e consegui os primeiros lugares em minha categoria no Brasileiro de Triathlon, na Meia-Maratona do Rio de Janeiro, no Pan-Americano de Triathlon, Maratona de Nova York (minha primeira maratona) e no Mundial de Triathlon (quando conquistei o tetracampeonato).
Muito mais do que a conquista de títulos, o que me deixa orgulhoso é saber que, como Pat Griskus foi um exemplo para mim, hoje eu sou um exemplo para muitos esportistas e paradesportistas. Não importa qual é sua deficiência física nem se você já nasceu com ela ou a teve por um acidente, como é meu caso. Hoje em dia existem esportes para todas as deficiências, é só ter força de vontade. No esporte, você vê que seus limites são amplos, as vezes até mais amplos do que quando você não era deficiente e ficava em casa vendo TV. Nosso paradesporto melhorou muito. Até a Paraolimpíada de Barcelona, os atletas eram convocados um mês antes da competição. Cada um tentava dar o melhor de si e qualquer resultado que viesse era lucro. Nos últimos anos, estamos vendo um trabalho muito mais sério e profissional. Exemplo disso são os atletas selecionados para Atenas 2004 que, com um apoio considerável para todos os seus preparativos - bolsa-atleta, exames periódicos com fisiologistas e técnicos de competições internacionais chegaram à Grécia para fazer do Brasil Paraolímpico uma das grandes potências mundiais.
Com o apoio do CPB, a comitiva brasileira voltou de Atenas com um enorme acervo de medalhas e com a consolidação de ser uma das forças emergentes do mundo paraolímpico.
Em 2005 estabeleci como foco principal as provas de Ironman com o objetivo não só de obter boas classificações, mas fundamentalmente para partir em busca de um novo recorde nessa prova.
Como acontece todos os anos em fevevereiro alcancei uma excelente performance no Triatlon Internacional de Santos e, em seguida, parti para o meu foco iniciando os treinamentos para o Ironman Brasil.
Como parte do treinamento participei em março do Triathlon Long Distance de Ubatuba alcançando um ótimo tempo de 4 horas e 37 minutos que me levou à vitória no age group.
Em maio foi a vez do esperado Ironman Brasil em Florianópolis. Sem dúvida meu melhor momento em termos de preparação física e psicológica para um Ironman. Era a minha chance de chegar não apenas a uma boa classificação, mas acima de tudo quebrar o meu próprio record mundial que já perdurava por quatro anos.
As condições climáticas adversas, o forte e inesperado vento me deixaram a seis minutos do recorde, mas muito feliz com a minha classificação. Primeiro lugar no age group e no 56º lugar dentre os 1200 participantes. Foi a minha melhor classificação da minha carreira nesta modalidade.
Florianópolis apenas adiou meu sonho. Ele se fez realidade, na Alemanha cinco semanas depois. Foi no Ironman de Roth, no mesmo cenário do antigo recorde: baixei o tempo de 10h10m para 9h57m – Uma diferença de treze minutos e mais um sonho realizado - quebrar as 10 horas.
Hoje dedico cada momento de 2006 à missão de projetar o esporte paraolímpico nas escolas de todo país como parte do programa Paraolímpicos do Futuro, tarefa que me compete como Coordenador de Suporte Técnico do Comitê Paraolímpico Brasileiro. Esse tempo reparto também ao meu constante aprimoramento como atleta, sempre em busca de melhores resultados.
Toda vez que eu consiga vencer a mim mesmo, o esporte será o vencedor.

Fonte: site http://www.rivaldomartins.com.br/

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