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sábado, 20 de novembro de 2010

Meias de compressão



Foto: site funf sports
  Reproduzo parcialmente um artigo que o Roberto Lemos mandou para todos da equipe Ironmind por email sobre uma das novas modas do triathlon, as meias de compressão. Vale a pena conferir.

Meias de compressão para quê?

Edição 204 - SETEMBRO 2010 - FERNANDO BELTRAMI

A indústria de roupas esportivas de compressão ganhou muita força no últimos anos. Inicialmente utilizados na área médica, estes produtos estão presentes em diversos esportes. Quem assistiu a Copa do Mundo de Futebol, por exemplo, talvez tenha notado que em alguns casos jogadores do mesmo time possuíam camisetas com diferentes graus de compressão. Enquanto alguns utilizavam uma malha por baixo da camiseta oficial da equipe, em outros jogadores a própria camiseta oficial era de compressão.

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Na área médica as meias de compressão possuem diversas faixas de graduação, sempre medidas em milímetros de mercúrio (mmHg). Essas podem variar desde 10-15 mmHg até mais de 50mm Hg. No mundo esportivo, as meias de compressão podem apresentar um nível constante de compressão, em torno de 20-30 mmHg, ou possuir um nível gradual de compressão, em torno de 20-25mmHg na altura do tornozelo e diminuindo até 70% ao se aproximarem do joelho.

Em esportes como triatlo, as meias de compressão já são comuns, sendo mais utilizadas na parte da corrida. Para se ter uma idéia do apelo dessas meias no esporte, em 2009 a World Triathlon Corporation decidiu proibir o uso delas no Ironman do Havaí, alegando que seu uso escondia o número do atleta, pintado na panturrilha. Como o número ficava escondido de quem viesse atrás apenas para os corredores que estivessem usando as meias, isto poderia prejudicar a competitividade do evento - atire a primeira pedra quem nunca tiver corrido um pouquinho mais rápido só para passar aquele cara ali na frente que é da mesma categoria. O barulho dos triatletas em resposta foi tão alto que logo depois a entidade voltou atrás da decisão e resolveu não pintar mais o número na panturrilha dos participantes, voltando assim a nivelar a competição.

Na corrida, o uso das meias de compressão não é tão grande - ainda - quanto no triatlo, modalidade em que os participantes são mais afeitos a novidades "tecnológicas", mas o aumento na quantidade de corredores com meias até os joelhos em provas é nítida. Talvez incentivados pelo exemplo de ícones do esporte como Paula Radcliffe (recordista mundial de maratona), e pelo fato de que hoje um corredor com meias até os joelhos já nem se destaque mais na multidão.

Os profissionais lançaram a moda, as amadores parecem ter aprovado e estão aderindo. Mas será que isto é o bastante para justificar a eficácia de um produto? Normalmente não, e por isso é que recorremos a diversos estudos independentes para se ter uma reflexão mais ampla do quanto as meias de compressão realmente funcionam e quanto se deve ao efeito placebo desencadeado pelo pensamento de "se fulano usa e diz que é bom, então quando eu usar também vai ser bom".



UM MONTE DE VANTAGENS. Vamos começar por um ponto crucial: o que os fabricantes alegam. Entre páginas na internet dos próprios fabricantes e de algumas lojas, vamos nos ater à seguinte lista: prevenção do desenvolvimento de varizes, edemas de origem linfática, cãibras, fadiga muscular, melhora do fluxo sanguíneo e oxigenação da musculatura, aumento na remoção de ácido lático, diminuição da vibração muscular e dor tardia, diminuição na produção de ácido lático, aumento de performance. Com uma lista dessas, fica realmente difícil resistir ao impulso de puxar o cartão de crédito, mas espere! Vamos ver o que existe de evidência concreta por trás de cada uma das supostas vantagens.

Uma primeira constatação, que não necessariamente desmerece o produto, é que enquanto um dos fabricantes alega - segundo estudos científicos que não são referenciados - "... aumento de fluxo sangüíneo de 34%. Isto aumenta a oferta de oxigênio e aumenta a performance muscular. A melhora de circulação também auxilia na remoção de ácido lático", uma loja diz que o produto "Melhora o fluxo sanguíneo e conseqüente irrigação da musculatura e remoção de ácido lático em até 34%". Perceba como a idéia de que o fluxo sanguíneo é aumentado em 34% praticamente se transforma em remoção de lactato 34% maior, duas coisas totalmente diferentes, e onde possivelmente a questão de diminuição de lactato possui um apelo muito maior entre atletas. Este tipo de desencontro entre fabricantes e vendedores, ou mesmo entre o departamento "científico" e o de marketing de uma mesma empresa são extremamente comuns, e por isso é recomendado que dada a facilidade da internet o consumidor sempre vá ao site do fabricante para buscar informações sobre produtos específicos.

Existem já diversos estudos publicados sobre os possíveis efeitos das meias de compressão no mundo esportivo. Enquanto alguns explicitamente buscam por qualquer indicativo de que elas possam ser benéficas, outros já de início se mostram mais céticos quanto aos resultados esperados. Numa sequência interessante, a pesquisadora Elmarie Terblanche, da Universidade de Stellenbosch, "vizinha" aqui da Universidade da Cidade do Cabo, na África do Sul, realizou dois estudos envolvendo o assunto.

No primeiro, partindo simplesmente da idéia de que as meias melhoram a performance por aumentar a circulação sanguínea e transporte de nutrientes e metabólitos, 10 corredores realizaram dois testes incrementais até a exaustão, com e sem as meias. Apesar de não haver nenhuma diferença em performance entre as duas situações, os níveis de lactato sanguíneo após o exercício diminuíram mais rapidamente com o uso das meias.

Seguindo então a pista de uma possível melhora na recuperação pós exercício, o segundo estudo envolveu 62 corredores da Two Oceans (prova de 56 km na Cidade do Cabo). Metade do grupo competiu com as meias, e a outra metade as utilizou apenas nos três dias após o evento. Dois dos marcadores indicativos de dano muscular medidos estavam significativamente menores nos atletas que correram com as meias, sugerindo algum benefício real de seu uso como facilitador da recuperação muscular.

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